Quando a sua voz interna se torna o seu maior peso
- Natalia Nascimento
- 2 de dez.
- 3 min de leitura

Muitas pessoas falam consigo mesmas de um jeito que jamais usariam com alguém que amam. A autocrítica dura, a cobrança constante e o julgamento automático vão se infiltrando no cotidiano até se tornarem um tipo de “fundo musical emocional” quase imperceptível mas que cansa, machuca e molda toda a maneira de existir.
Na Gestalt-terapia, autores como Zinker, Frazão e Fukumitsu reforçam que a forma como nos tratamos é uma forma de contato e que esse contato gera impacto direto na vitalidade, na autoestima e na capacidade de se autorregular. Quando o diálogo interno se torna ríspido, impaciente ou perfeccionista, a experiência interna começa a encolher. A gente vai se afastando das próprias necessidades reais para atender expectativas introjetadas, muitas vezes antigas demais até para serem reconhecidas.
A verdade é que esse jeito duro de falar consigo mesma nem sempre nasce da falta de amor próprio. Muitas vezes, ele surge como um ajustamento criativo: uma forma que você encontrou lá atrás para dar conta do que era exigido. Talvez tenha sido uma tentativa de se proteger de críticas, de corresponder ao que esperavam de você, ou uma maneira de “não decepcionar”. Um dia funcionou mas hoje, provavelmente, ficou apertado demais.
Quando essa dureza se torna automática, entramos em alguns mecanismos bem conhecidos na Gestalt. As introjeções, que são frases e “verdades” que você engoliu sem questionar (“eu preciso ser forte”, “eu preciso dar conta sozinha”). A confluência, onde você se adapta tanto ao externo que esquece de nomear o que sente e a retroflexão, quando a energia que deveria ir para o mundo volta contra você em forma de culpa, autocrítica ou exigência excessiva.
Fukumitsu descreve a retroflexão como uma “violência silenciosa” porque ela acontece por dentro, na forma como você se trata.
O olhar da Psicologia Analítica ajuda a complementar essa compreensão. A voz crítica interna pode ser vista como parte da sombra: um conjunto de aspectos rejeitados, reprimidos ou desvalorizados ao longo da vida. Quando essas partes não são integradas, elas aparecem como autocobrança, perfeccionismo, sensação de inadequação e medo constante de falhar. Não é que você não seja suficiente; é que uma parte sua aprendeu a sobreviver assim.
Esse tipo de diálogo interno se revela em pequenos momentos do dia a dia. Na dificuldade de descansar sem culpa. No impulso de agradar para evitar conflito. Na sensação de que você sempre está devendo algo. Ou naquela ideia de que a gentileza é algo que você oferece aos outros, mas não a si.
A Gestalt-terapia propõe um caminho que começa devagar: com consciência. Perceber o que você diz a si mesma. Perceber o tom. Perceber em quais momentos essa voz aparece. De quem é essa voz.
É a partir dessa clareza que o organismo começa a retomar sua capacidade natural de se autorregular sem rigidez, sem violência interna, sem arrancar de si algo que não consegue dar e sofre tanto ao receber.
Assim vem o segundo movimento: acolher a experiência. Não para justificar. Não para romantizar, mas para reconhecer que essa forma de se tratar teve uma função, e que agora você pode escolher outra.
A terapia, dentro dessa perspectiva, se torna um espaço seguro para experimentar novas formas de se falar, de se olhar e de se relacionar consigo. É um ensaio de presença. É um reaprender a respirar dentro da própria vida.É a possibilidade de substituir a voz que cobra por uma voz que cuida sem perder responsabilidade, mas ganhando compaixão.
Porque você não precisa continuar se tratando como se fosse sua inimiga. Você merece descanso. Você merece escuta. Você merece gentileza principalmente da sua própria voz interna.
Se esse texto despertou algo em você, talvez seja o momento de iniciar um processo de mudança.E eu estou aqui para caminhar ao seu lado.
📩 Se desejar iniciar a terapia, me escreva. Vai ser um prazer te acompanhar nessa reconstrução.



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