top of page
Buscar

O LUTO DOS QUE FICARAM

  • Foto do escritor: Natalia Nascimento
    Natalia Nascimento
  • 10 de set. de 2024
  • 3 min de leitura


Quando uma pessoa comete o ato de suicídio, se sucede o luto daqueles que sobreviveram, sua família. Estes enlutados necessitam ter seu cuidado acrescido, pois tal ato gera nas pessoas que ficam uma grande perda carregada de culpa e vergonha. Bowlby (1998) define a morte por suicídio como especial, uma vez que ela é considerada desnecessária. Sendo assim, a uma propensão maior de buscar culpados pelo ato.

O suicídio é visto em nossa sociedade como um tabu, o que faz com que os enlutados por suicídio tenham uma vivência mais intensa que os enlutados por morte natural, já que a morte por suicídio está repleta de mistérios, complicações e violência. O sobrevivente busca sempre tentar compreender as razões que levaram seu ente querido a tirar sua própria vida. Os enlutados por suicídio tendem a ter os mais diversos tipos de sentimentos, como: medo, vergonha, culpa e a sensação de abandono. Desta forma, a família passa a apresentar complicações no luto, pois poderá passar por um período de longa busca de compreensão dos motivos para tal decisão. (Moura, 2006).

As causas e as circunstâncias da perda têm uma importância significativa no processo de elaboração do luto. Sendo assim, esse tipo de morte leva a vários questionamentos aos sobreviventes, como relata Mariano & Macedo (2013, p. 05): “em um suicídio o corpo fica no cemitério, mas há diversos fantasmas que vão acompanhar os parentes por muito tempo. Quem sabe por toda a vida”. Tal ato afeta de forma diferente cada indivíduo, cada membro da família lida de uma forma diferente, para Fukumitsu (2013), quando um filho sobrevive ao suicídio de um dos genitores, pode ter experiências cujo sofrimento provoca a sensação de desamparo; o suicídio parental representa uma mudança, um divisor de águas: antes e depois do fenômeno.

Quando a perda é sofrida pelos pais o sentimento de culpa é ainda mais intenso, além do rompimento da ordem natural do ciclo de vida eles se sentem cobrados internamente ou externamente, sobre possíveis erros que cometeram na educação dos filhos (Mariano & Macedo, 2013). Aqueles que participaram ativamente da criação questionam sinais não vistos, erros cometidos, se questionam sobre o que poderiam ter feito para ter impedido tal ato, se culpam sobre como foram como pais e se veem como falhos, já que veem como se a sociedade os culpasse.

Nesse sentido, Jamison (2010 apud Fukumitsu 2013, p.73), contribui mostrando que:

“O suicídio é uma morte como nenhuma outra, e aqueles que são deixados para lutar com isso devem enfrentar uma dor sem igual. Eles são deixados com o choque e com o infindável “e se”. São deixados com a raiva e a culpa e, vez por outra, com um terrível sentimento de alívio. São deixados para uma infinidade de perguntas dos outros, respondidas ou não, sobre o motivo; são deixados ao silêncio dos outros, que estão horrorizados, embaraçados e incapazes de formular um bilhete de pêsames, dar um abraço, fazer comentários; e são deixados com outros pensando – e eles também – que poderia ter sido feito mais.”

Ao lidar com uma morte tão violenta e inesperada os familiares lidam com sentimentos em excesso, seus questionamentos se tornam cada vez mais intensos, eles vem de forma interna e de forma externa, quando os que os cercam se mostram questionadores ou simplesmente expressam seu desconforto com silêncio e falta de conforto, aqueles de fora condenam aqueles que ficam, os sobreviventes, lidam com sua dor, se sentem abandonados, excluídos, isolados, culpados e envergonhados. Karen Scavancini menciona em sua tese:

“Mulheres tendem a sentir-se mais culpadas, relatando mais sentimentos de frustração (Beautrais, 2004; Grad, Zavasnik, & Groleger, 1997)”

O sofrimento daquele que se suicidou agora é deixado para aqueles que ficam. David Ness e Cynthia Pfeffer (1999 apud Fontenelle 2008), familiares de suicidas são mais responsabilizados e evitados pelas pessoas do que em outras mortes, o que aumenta a tendência do isolamento, da culpabilização, dificuldade em assumir papéis e tarefas, deterioração dos laços familiares, transmissão psíquica transgeracional, segredos do motivo da morte e das dificuldades de falar sobre o assunto. Os enlutados também podem vivenciar uma série de emoções contraditórias e confusas após o suicídio o que altera suas vidas para sempre (Fine, 1997).

Devido ao estigma envolvido nesta perda, aos fortes sentimentos de culpa e de abandono, aos julgamentos internos e externos vivenciados após o ato, as investigações policiais e até mesmo jornalísticas e aos questionamentos, os sobreviventes enlutados vivenciam um processo de luto complicado e alguns momentos não reconhecido e que precisa de reconhecimento, pertencimento e de intervenção.

O acompanhamento seja ele individual ou em grupo é essencial para a elaboração deste luto, para que a vivencia desse perda seja algo mais leve.

Caso passe por isso ou conheça alguém que esteja passando, busque ajuda profissional.

 
 
 

Comments


bottom of page