Depois eu faço...
- Natalia Nascimento
- 10 de set. de 2024
- 4 min de leitura
Nós últimos dias foi possível notar em clínica, como diversos clientes vem trazendo sobre a tendência de procrastinar em seus afazeres, como o comportamento vem sendo cada vez mais recorrente e gerando muita angústia em seu processo, é quase delicada a forma em que um "deixar para depois" afeta de forma intensa e prejudica a possibilidade de sermos espontâneos e cumprir com as metas pré determinadas.
A procrastinação pode ser vista como um comportamento de autossabotagem, é constituída a partir de crenças como, “não mereço ser feliz ou e se eu não conseguir”, é quase como se temêssemos a felicidade, o medo de errar é maior que a percepção de nossas potências.
Como se tivéssemos medo da felicidade quase realista, vivemos em uma sociedade onde estamos sempre perseguindo o ideal e sempre há algo para melhorar, alcançar ou fazer. Durante esse tempo, ouvi sobre a rejeição de boas oportunidades, sobre conhecer pessoas e ate mesmo vivi várias situações em que as pessoas tentam se manter seguras em sua antiga e querida "zona de conforto". Esse processo já aconteceu com várias pessoas e vários pacientes que acompanhei. Para entendermos melhor vou citar dois conceitos.
Procrastinar significa adiar aquilo que a gente sabe que é preciso fazer, mas não fazemos no momento. Pode ser uma obrigação, uma tarefa chata que você fica adiando por que não dá prazer ao fazer: pagar uma conta, consertar alguma coisa, faxina, organizar, fazer o relatório, escrever um artigo. Mas pode ser também algo que poderia melhorar a sua vida e você simplesmente deixa para depois pela grande alteração que aquilo fará com o que você já está acostumado: fazer aula de dança, começar um trabalho de auto conhecimento, fazer exercícios, fazer um curso, trocar de profissão, terminar um relacionamento, entre outros.
Procrastinar faz parte dos mais variados processos de autossabotagem, é uma de suas muitas facetas e talvez seja a mais comum. Todas as vezes que você procrastina, você está se sabotando, causando algum mal para você mesmo, você sabe disso, a gente sempre sabe disso, porque causa estresse, de deixar tudo para última hora, gera o risco de pagar algo com multa, deixa bagunça e a desorganização tomarem conta, tornando a sua vida mais difícil.
A autos sabotagem é mais ampla do que procrastinação.
Sabemos que tem como acabar com a procrastinação, pois ela não acontece por obra do acaso! Sentimentos de opressão podem nos deixar paralisados e assim podemos adiar muitas coisas, para sentir um alívio ilusório e temporário. Sim, ilusório e temporário pois a tensão interna cresce, já que, no fundo, você sabe o que não fez e que vai ter que fazer depois. Quando você pensa em fazer algo que precisa e não faz, está procrastinando, surge um desconforto porque você sabe que precisa ser feito! Então para não sentir o desconforto você deixa para depois e quando você deixa para depois surge o alivio temporário, mas na verdade, a tensão inconsciente cresce e os problemas também! Repetitivo e confuso né? Percebeu que virou um ciclo ruim, uma bola de neve.
O excesso de estresse, muitos afazeres, podem nos levar a nos sentirmos oprimidos e sobrecarregados, e aí procrastinamos. Vários sentimentos negativos podem gerar também a procrastinação. A dor de uma perda, ter a confiança quebrada num relacionamento, muitas vivências negativas podem carregar sentimentos e alimentar em você a crença que não tem valor e, por isso não merece uma vida melhor, apenas ser feliz!! Devido a esse não merecimento, adia de forma indefinida, a matricula em um curso que poderia lhe proporcionar mais renda e uma vida mais tranquila ou simplesmente adia as férias e nunca encontra tempo pra cuidar de si ou essa sua recusa a convites para sair e conhecer pessoas interessantes porque é arriscado permitir que alguém entre em sua vida.
O medo é um grande causador da procrastinação. Podemos deixar de ir ao médico, adiar um exame, deixar aquela conversa desagradável para depois, deixar alguns amigos e convites de lado, tudo por medo!!
É possível diminuir e minimizar os efeitos desse medo sabotador e deixar de procrastinar. Para isso precisamos identificar, percebendo onde e quando e como isso ocorre. Vai exigir uma boa dose de esforço no sentido de desacelerar o processo automático para perceber o que você está fazendo e decidindo no exato momento em que faz e tentar reverter, isso é o mais difícil!! Mudar a atitude frente ao seu medo. Isso ocorre por que acabamos nos acostumando a viver de uma certa maneira, que, mesmo sendo sofrida e muitas vezes desejando tomar outra decisão, preferimos continuar na “zona de conforto”, do velho e querido mundinho conhecido e supostamente seguro, que claramente não é tão seguro assim, é só lembrarmos do desconforto! O que conhecemos pode ser mais confortável de certa forma, mesmo que seja algo que gere tanto sofrimento.
Sabe aquele ditado É como se a pessoa pensasse assim: " Esta ruim, mas pode piorar então porque arriscar?" Isso tudo gera vários medos extras: E se essa vida supostamente melhor, não for melhor? E se ficar pior do que está agora? Para que arriscar? Eu já sei lidar mesmo com isso que tenho hoje. E se ficar melhor e depois eu perder e voltar a ficar como antes? Vai ser uma decepção, melhor ficar como está agora. Se ficar melhor e eu não der conta? por aí vai.
Todos esses pensamentos podem estar ligados ao medo de ser feliz. O medo de arriscar, o medo de sair da zona de conforto, tudo isso também faz parte do complexo tema que é do da autos sabotagem. Realmente não é fácil desvendar tudo isso por conta própria. Eu mesma demorei algum tempo para perceber esse ciclo se fazendo presente em meu dia a dia e o quanto isso vinha me atrapalhando e diminuindo minha espontaneidade e muitas vezes precisei “ir as cegas” , então recorrer a opinião sincera de queridos amigos e profissionais da minha área. É importante buscar ajuda se você se percebe neste ciclo ruim, não hesite em procurar ajuda de um psicólogo!
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